Cadê a segurança?
É incrível como os gestores públicos estão com preocupação crescente em relação à Copa do Mundo 2014. Em São Paulo, finalmente o Itaquerão sai do papel e começa a dar sinal de vida, em Belo Horizonte o desafio do momento é a questão da Mobilidade Urbana e, consequentemente a acessibilidade. No Rio de Janeiro, a primeira providência tomada foi a pacificação das favelas, uma vez que a questão que compromete a cidade é a segurança, e assim por diante.
Todas essas ações são nobres, sem sombra de dúvida, mas a questão fundamental é a Segurança Pública, pois não adianta exibirmos bumbuns, futebol, funk, praias, sem que se possamos ao menos caminhar seguramente pelas ruas. E aqui reitero o meu apoio à Força Tarefa que atua no Rio de Janeiro, na tentativa de deixar a cidade um pouco melhor para se viver.
Por outro lado, penso que se a Copa do Mundo 2014 não fosse realizada no Brasil nada seria feito. Acredito piamente que o Governo do Rio não está priorizando os moradores, mas sim os turistas que se sentem atraídos pela exuberância das favelas. E também naqueles virão para o evento.
Mas e quanto aos outros grandes centros urbanos: estão se preparando adequadamente para oferecer a turistas e, principalmente a moradores, a segurança que pleiteiam e merecem? Sinceramente, acho que não.
Infelizmente a nova lei da fiança abre brechas que beneficiam pessoas não foram flagradas cometendo atos ilícitos, criminais (mas isso não significa que sejam inocentes), à medida que permite o julgamento em liberdade mediante pagamento de fiança.
Quem garante que não haverá fulga? Infelimente só tenho a acreditar que dessa forma o próprio Judiciário é que contribui para que haja falhas na segurança dos cidadãos, porque não é soltando, mas punindo adequadamente os infratores é que se garante a integridade física das pessoas.
E falando em infrações, tenho conhecimento de causa o que é passar pelo constrangimento de se sentir inseguro. Ontem, ao retornar do serviço, quando tinha acabado de descer do ônibus e entrado na rua paralela ao ponto, já quase na esquina do meu prédio fui surpreendida por dois rapazes que estavam em uma motocicleta. Indignada ao ver que um deles estava puxando a minha bolsa, tentei jogá-la por cima do muro do prédio por onde passava, mas em vão.
O bandido, educadamente, virou e disse:
- Solta a bolsa, dona!
Tentei mais uma vez reaver o que era e é meu por direito, porque trabalhei para ter, mas não consegui. Em seguida, a moto partiu em alta velocidade. Então corri para o meio da rua gritando que tinha sido vítima de assalto e diversas pessoas vieram ao meu encontro. Corri para o telefone público, na tentativa de ligar para o 190. Foi então que me informaram que uma viatura da Polícia militar estava se aproximando.
Saí correndo e me joguei em frente à viatura. Totalmente descontrolada entrei no carro e fui levada ao Batalhão de Polícia para registrar o boletim de ocorrência. Nesse meio tempo, os dois policiais que me socorram percorreram o bairro para ver se encontravam os dois vagabundos, mas nada deles, uma vez que devem ter seguido para uma das mais movimentadas avenidas de Belo Horizonte, a Cristiano Machado.
Fica aqui o meu agradecimento a esses dois cidadãos, que fizeram de tudo para me acalmar, que me levaram para registrar a queixa, e que depois me deixaram em casa, conversaram com o meu marido para explicar o que ocorrera e que, de quebra, encontraram o molho de chaves que eu havia esquecido no orelhão e entregaram nas minhas mãos. Sem contar que, logo que entrei na viatura, utilizei o celular de um deles para bloquear a minha conta bancária.
Bom, a lição disso tudo é que não estamos preparados para receber turistas, se não podemos ter segurança em horário que seria considerado tranquilo, pois a bandidagem não recua, não dorme nunca. Se fui assaltada enquanto uma viatura se aproximava, em um bairro onde a polícia atua ostensivamente, sem parar, diariamente ( a redundância é proposital), com um monte de testemunhas, imaginem o que acontecerá aos turistas que chegam totalmente despreparados, em uma cidade desconhecida, com uma lei que dá sorte aos bandidos....
Será uma boa ideia receber turistas para se tornarem vítimas de assaltos, como o que sofri ou pior? Será legal abrirmos as portas do nosso país aos visitantes, e também as porteiras para os marginais que se sentem no direito de render estrangeiros em hotéis por causa de confronto com a polícia? É isso o que queremos?
Sabe, já reparei que no Brasil, salvo as ações de pacificação no Rio de Janeiro, não existe nenhum tipo de plano estratégico de segurança pública para garantir a nossa integridade e a dos turistas. Os governantes estabelecem metas e desenvolvem políticas para tudo o que se relaciona, direta ou indiretamente, com a Copa 2014: mobilidade urbana, reforma e construção de estádios, treinamento de guias, criação de hotéis, atrativos turísticos, e até mesmo criam secretarias, mas o "X da questão" é: cadê a segurança?
*Alessandra Grisolia, jornalista, assessora de Comunicação.