quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Hipocrisia no mercado de trabalho: até quando?



Devido à proximidade da Copa das Confederações 2013 e da Copa do Mundo 2014, não faltam ofertas de emprego e cursos de capacitação nas áreas de Hotelaria, Turismo, Gastronomia, entre outras. A principal finalidade é formar profissionais capacitados para atender à demanda de turistas que visitarão o Brasil durante ambos os eventos. Nunca houve, também, tanta oferta de cursos de idiomas gratuitos.

Por outro lado, apesar de serem crescentes os investimentos das autoridades públicas, no sentido de aquecer o mercado de trabalho, o Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged) mostra que o número de empregos formais gerados em 2012 foi o pior em três anos. Para se ter ideia, no ano passado foram criados 1.301.842 empregos formais contra 1.944.560 em 2011. Nem dezembro escapou: o saldo ficou negativo em 496.944 vagas, representando o pior resultado para o mês desde 2008.

Infelizmente, se por um lado o setor de Prestação de Serviços está aquecido; por outro ocorrem impedimentos para que diversos profissionais assumam postos de trabalho. Por exemplo, quando uma pessoa tenta concorrer a uma vaga, uma das primeiras informações a serem fornecidas é o número do Cadastro de Pessoa Física (CPF). Sem ele, o candidato fica impossibilitado de participar da seleção, que por várias vezes exclui de cara pessoas com o nome pendente no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC)/Serasa. Apesar de agências de Recrutamento e Seleção não admitirem que tal situação existe, muitas delas utilizam a análise de CPF para incluir ou excluir candidatos.

Na ponta do iceberg estão os desempregos que buscam uma oportunidade no mercado de trabalho e que precisam de emprego justamente para quitarem honrosamente suas dívidas. São jovens que necessitam de aprimorar sua experiência profissional; recém formados à procura de emprego em sua área; pessoas com vasta experiência, que preenchem, na maioria das vezes, as exigências dos empresários. São os excluídos pelo endividamento....

Além do antagonismo da "exclusão por causa da inclusão", ou seja, da exclusão de candidatos devido à inclusão dos seus nomes no SPC/Serasa, diversos trabalhadores enfrentam um outro tipo de entrave, que quase ninguém tem a ousadia de admitir, mas que ainda existe: a exclusão pela aparência, pela idade, pela cor, pelo sexo, pela opção sexual.

Não são poucas as empresas que admitem negros apenas para preeencher cota obrigatória. Também não são poucas as contratantes que excluem os não brancos, caucasianos, arianos, numa espécie de Nazismo burlado.... Inúmeras também são as empresas que admitem pessoas até os 25, 30 anos, mas poucas são as que apostam na experiência profissional em detrimento da idade, como ocorre, por exemplo, em alguns supermercados em Belo Horizonte, que dão valor à força de trabalho dos mais experientes.

Não se fala muito, mas o que mais acontece é a exlusão pela aparência. Por exemplo, quase nunca se vê uma vendedora feia ou com uns quilos a mais trabalhando em shopping center ou como recepcionista da Diretoria em uma multinacional. Você já viu? Aliás, você já viu um(a) jornalista ser contratado(a) pela primeira vez por uma emissora de TV para trabalhar como apresentador(a) após os 40? Se isso ocorre, trata-se de mera exceção...

Talvez o maior grau de dificuldade no mercado de trabalho seja ainda enfrentado pelas mulheres que possuem dupla jornada: mãe/esposa – profissional. Muitas vezes, elas, que são detentoras de salários inferiores aos dos homens e que não raras vezes sustentam a família toda, são vítimas de uma espécie de Ditadura Patriarcal, ao serem excluídas de um simples processo de seleção porque têm filhos ou porque um dia será mãe. Mas tal readidade nunca é assumida pelas empresas contratantes. Claro que não!

O Brasil é um país repleto de desigualdades, inclusive quando o assunto é Emprego e Renda. Milhares de candidatos deparam-se com empecilhos que os empregadores impõem, mas tentam esconder. Diante da exclusão burlada, muitos trabalhadores estão sendo empurrados para a informalidade, ou pior ainda, para atividades não legalizadas como jogos clandestinos, bingos e venda de produtos falsificados e sem nota fiscal, incluindo medicamentos. Olhem só a gravidade!

E enquanto alguns milhares, para garantir o sustento de suas famílias, tentam se virar da maneira como podem; outros milhares são admitidos em cargos de confiança nos altos escalões dos órgãos públicos, sem enfrentar critérios de seleção, sem que tenham a mínima competência... Este é o retrato do país sede das Copas das Confederações, em 2013, e do Mundo, em 2014. Contentemo-nos com a hipocrisia no mercado de trabalho ou façamos alguma coisa para tentar mudar isso!

Alessandra Grisolia, jornalista.