Devido
à proximidade da Copa das Confederações 2013 e da Copa do Mundo
2014, não faltam ofertas de emprego e cursos de capacitação nas
áreas de Hotelaria, Turismo, Gastronomia, entre outras. A principal
finalidade é formar profissionais capacitados para atender à
demanda de turistas que visitarão o Brasil durante ambos os eventos.
Nunca houve, também, tanta oferta de cursos de idiomas gratuitos.
Por
outro lado, apesar de serem crescentes os investimentos das
autoridades públicas, no sentido de aquecer o mercado de trabalho, o
Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged) mostra que o número
de empregos formais gerados em 2012 foi o pior em três anos. Para se
ter ideia, no ano passado foram criados 1.301.842 empregos formais
contra 1.944.560 em 2011. Nem dezembro escapou: o saldo ficou
negativo em 496.944 vagas, representando o pior resultado para o mês
desde 2008.
Infelizmente,
se por um lado o setor de Prestação de Serviços está aquecido;
por outro ocorrem impedimentos para que diversos profissionais
assumam postos de trabalho. Por exemplo, quando uma pessoa tenta
concorrer a uma vaga, uma das primeiras informações a serem
fornecidas é o número do Cadastro de Pessoa Física (CPF). Sem ele,
o candidato fica impossibilitado de participar da seleção, que por
várias vezes exclui de cara pessoas com o nome pendente no Serviço
de Proteção ao Crédito (SPC)/Serasa.
Apesar de agências de Recrutamento e Seleção não admitirem que
tal situação existe, muitas delas utilizam a análise de CPF para
incluir ou excluir candidatos.
Na
ponta do iceberg estão os desempregos que buscam uma oportunidade no
mercado de trabalho e que precisam de emprego justamente para
quitarem honrosamente suas dívidas. São jovens que necessitam de
aprimorar sua experiência profissional; recém formados à procura
de emprego em sua área; pessoas com vasta experiência, que
preenchem, na maioria das vezes, as exigências dos empresários.
São os excluídos pelo endividamento....
Além
do antagonismo da "exclusão por causa da inclusão", ou
seja, da exclusão de candidatos devido à inclusão dos seus nomes
no SPC/Serasa, diversos trabalhadores enfrentam um outro tipo de
entrave, que quase ninguém tem a ousadia de admitir, mas que ainda
existe: a exclusão pela aparência, pela idade, pela cor, pelo sexo,
pela opção sexual.
Não
são poucas as empresas que admitem negros apenas para preeencher
cota obrigatória. Também não são poucas as contratantes que
excluem os não brancos, caucasianos, arianos, numa espécie de
Nazismo burlado.... Inúmeras também são as empresas que admitem
pessoas até os 25, 30 anos, mas poucas são as que apostam na
experiência profissional em detrimento da idade, como ocorre, por
exemplo, em alguns supermercados em Belo Horizonte, que dão valor
à força de trabalho dos mais experientes.
Não
se fala muito, mas o que mais acontece é a exlusão pela aparência.
Por exemplo, quase nunca se vê uma vendedora feia ou com uns
quilos a mais trabalhando em shopping center ou como recepcionista da
Diretoria em uma multinacional. Você já viu? Aliás, você já viu
um(a) jornalista ser contratado(a) pela primeira vez por uma emissora
de TV para trabalhar como apresentador(a) após os 40? Se isso
ocorre, trata-se de mera exceção...
Talvez
o maior grau de dificuldade no mercado de trabalho seja ainda
enfrentado pelas mulheres que possuem dupla jornada: mãe/esposa –
profissional. Muitas vezes, elas, que são detentoras de salários
inferiores aos dos homens e que não raras vezes sustentam a família
toda, são vítimas de uma espécie de Ditadura Patriarcal, ao serem
excluídas de um simples processo de seleção porque têm filhos ou
porque um dia será mãe. Mas tal readidade nunca é assumida pelas
empresas contratantes. Claro que não!
O
Brasil é um país repleto de desigualdades, inclusive quando o
assunto é Emprego e Renda. Milhares de candidatos deparam-se com
empecilhos que os empregadores impõem, mas tentam esconder. Diante
da exclusão burlada, muitos trabalhadores estão sendo empurrados
para a informalidade, ou pior ainda, para atividades não legalizadas
como jogos clandestinos, bingos e venda de produtos falsificados e
sem nota fiscal, incluindo medicamentos. Olhem só a gravidade!
E
enquanto alguns milhares, para garantir o sustento de suas famílias,
tentam se virar da maneira como podem; outros milhares são admitidos
em cargos de confiança nos altos escalões dos órgãos públicos,
sem enfrentar critérios de seleção, sem que tenham a mínima
competência... Este é o retrato do país sede das Copas das
Confederações, em 2013, e do Mundo, em 2014. Contentemo-nos com a
hipocrisia no mercado de trabalho ou façamos alguma coisa para
tentar mudar isso!
Alessandra Grisolia, jornalista.