terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ofício de fotógrafo lambe-lambe é reconhecido

*Da Assessoria da PBH
Será oficializado na quarta-feira, dia 14, durante reunião do Conselho Deliberativo do Patrimônio às 14h, na Casa do Baile (avenida Otacílio Negrão de Lima, 751, Pampulha) o primeiro registro de bem imaterial de Belo Horizonte: o de ofício do fotógrafo lambe-lambe. O encontro dos conselheiros é realizado uma vez por mês na Diretoria de Patrimônio Cultural (DIPC). Ao entrar para o Livro do Registro dos Saberes, o ofício será o primeiro bem cultural imaterial a receber proteção, inaugurando uma nova e importante fase da política de proteção do patrimônio cultural na capital mineira. O Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte aprovou a abertura do inventário para o Registro Imaterial do Ofício de Fotógrafo Lambe-Lambe em 2008, com base no decreto federal 3.551, de 2000, e na lei municipal 9000, de 2004, que “institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial”. A DIPC constatou que a trajetória do ofício revelava histórias do homem na cidade e suas relações, tratando-se não somente da história do ofício de fotógrafo lambe-lambe, mas também da história através de um ofício. O estudo foi desenvolvido ao longo dos anos em três etapas: levantamento preliminar, identificação e documentação. O local estudado foi a Zona Central de Belo Horizonte, sendo identificados o Parque Municipal e a Praça Rui Barbosa como as localidades no interior das quais o ofício continua se manifestando. Ao longo do estudo para aprovação do registro foram realizados encontros com os fotógrafos lambe-lambes a fim de conhecer a situação atual do ofício. Também foi feito um amplo levantamento bibliográfico sobre o processo histórico de ocupação do local e das localidades estudadas, bem como sobre a história da fotografia no Brasil, em Minas Gerais e em Belo Horizonte. Foram consultados livros, trabalhos acadêmicos e artigos de revista, jornal e publicações da internet. Além disso, com o suporte dos veículos de comunicação, foi feito um chamamento público com o objetivo de convidar a população a colaborar na realização do registro do ofício dos fotógrafos, fornecendo cópia de fotografias tiradas pelos lambe-lambes ou ainda, relatando histórias e experiências referentes aos fotógrafos. Todo o material fornecido foi digitalizado e catalogado pela equipe da DIPC. Retratos do ofícioPor meio do registro, o município pretende conferir reconhecimento e legitimidade ao ofício de lambe-lambe e promover a sua salvaguarda. Entre as primeiras medidas tomadas pela Prefeitura de Belo Horizonte para evitar a sua extinção, está a exposição “Fotógrafo lambe lambe:retratos do ofício em Belo Horizonte" que será aberta no sábado, dia 17, às 16h, na Casa do Baile. No mesmo dia, também haverá o lançamento de documentário sobre o assunto. A mostra fica em cartaz até o dia 18 de março do ano que vem e pode ser visitada de terça a domingo, das 9h às 19h. A entrada é gratuita. Os lambe-lambesA explicação mais recorrente para o nome do ofício é a que remonta ao período em que os fotógrafos utilizavam as chapas de vidro como negativo. A língua era passada nas chapas para possibilitar a identificação do lado em que se encontrava a emulsão, per­mitindo que se definisse a sua posição correta. O lado mais áspero, e que colasse na língua, apontava a camada da emulsão, praticamente imperceptível a olho nu.Na década de 1920 os primeiros fotógrafos lambe-lambes chegaram a Belo Horizonte. Vindos, sobretudo, da Europa, eles trouxeram consigo no­vas técnicas de fotografar e de revelar ao ar livre. O primeiro espaço público da cidade a receber os lambe-lambes foi o Parque Municipal. Atualmente, apenas nove fotógrafos, alguns com ajudantes, permanecem trabalhando no local. Segundo depoimento do fotógrafo Francisco Xavier, o Parque Municipal não tinha grade, era todo aberto. “Você podia entrar em qualquer lugar. E as pessoas que procuravam a gente para tirar fotografia eram aquelas pessoas que vinham do interior e já vin­ham falando que a fotografia do parque era a melhor e que, se viesse a Belo Horizonte, não fosse no parque e tirasse uma fotografia, não tinha vindo à cidade”, explica.Pela relação de proximidade com o cliente e pelo caráter mais despojado e informal de um ofício desenvolvido em espaços públicos que os fotógrafos lambe-lambes conseguiram sobreviver à concorrência dos estabelecimentos formais de fotografia, sobretudo no que tange às classes sociais menos privilegiadas. O último grande acontecimento a marcar profundamente o ofício de fotógrafo lambe-lambe foi a invenção da máquina digital. Habilidosos na arte de se adaptar às novas realidades, tanto técnicas quanto sociais, esses profissionais souberam, ao longo do tempo, reinventar o seu ofício para manterem-se atuantes no interior do espaço urbano.

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